17 de agosto de 2009

Pão


Palavras
In disiveis
In visíveis
In terditas
um
numero
um
nome
uma alcateia de lobos luminosos
pela garganta adentro
Que posso fazer disperso por estas praças desordenadas
senão compor minha mãe outra vez
sou uma língua agitada com alguma sombra
ou uma máquina cantante no ofício das letras transbordadas
eu sou uma rigorosa paisagem de azuis
e por dentro dos passos brotados na brancura da noite
alguma tulipas faiscantes como peixes profundos
um objecto cortante para esquecer a tua voz
começa a cantar no ventre da teia contraditória
onde me encordoo
a cidade respira
e eu mastigo a cidade
com as suas poluições magnéticas
caminho sob os neons
sou uma laranja na neve urbana
não posso dizer que sou gente
mas alguém dizia que podíamos sobreviver
sem perder a palavra
alguém dizia os nossos rostos como ateliers sonoros
e eu acreditei
eu ouvia as frases atravessadas e regressadas desse sonho
era um acordar escrito no labor da pele aberta pela caneta furiosa
gotas de tinta para que seja outro espaço a nossa cama
um lençol para o equilíbrio dos afectos
tem de ser uma cama de astros
sofrida no descansar do corpo extenuado pelo silencio
que poderia acolher outro nome para o seu baptismo
por exemplo a musica substancial do verbo
ou a delicada alegria de um corpo por mutilar de medo
a agulha da insónia repartida pelas horas
teus dedos amor são a grande capital da verdade
o teu coração uma borboleta de açúcar
o trigo multiplicado
estremo a extremo
o Pão.

7 comentários:

~pi disse...

a grande alegria de

poder ser

antes do medo

] como seria?

podemos ain da

im aginar

alegrias simples

de pão

quente

[ na boca

deste mundo

de néon-trapo?






~

maria josé quintela disse...

também podemos sobreviver no silêncio.



muito belo o teu poema.



beijo.

Carlos Ramos disse...

Sim ~Pi, podemos e devemos. Mais luz menos trapo menos medo mais...

ElsaTaveiraLourenço disse...

Que belo poema! Lindo, profundo, toca, faz pensar...
O medo é o pior que podemos ter, o medo atrofia, inibe, priva-nos de liberdade, aquela liberdade do interior antes de tudo. E neste momento vivemos momentos em que sentimos medo de ter medo...
Obrigada pela partilha e pela força!

Fernanda Fernandes Fontes disse...

Amores são alimentos perigosos e saborosos...

Obrigada pela visita ao Degustação...te espero sempre por lá...bjs

AnaMar (pseudónimo) disse...

Como pão para a boca, as tuas palavras são...

...Infinitamente belas e ...necesárias.

Rute Coelho disse...

Porque o nosso pão é a emoção, a conclusão mais ou menos lógica dos afectos. O medo é pois o fermento desse pão que apesar de tudo, nos faz continuar por cá a acreditar.